domingo, 25 de fevereiro de 2007

Arquivo de Metal


(calmo e indiferente) Filho de Victor Giudice, minha história começo ainda em minha juventude. - (voz fica mais grossa e fala devagar) - Especificamente com meu primeiro, e único emprego. Depois de um ano, sempre chegando na hora e cumprindo com minhas obrigações fui contemplado, 15% a menos no meu salário. (feliz) Como era meu primeiro ano, sorri e saí.

Mudei-me para ainda mais longe do centro, mas continuei, pontual e responsável.Depois de dois anos, - (seco novamente) - mais uma baixa em meu salário, desta vez 17%, agora não adiantava apenas me mudar, tive de cortar gastos. Comecei a fazer uma refeição só por dia.

Mas claro, animei-me ao saber que ao menos tinha meu (triste) emprego. Ainda. Depois disso a mesmice se instaurou, uma calmaria. A empresa estava indo bem, melhor que nunca, (começa a falar rápido e a acelerar) fiquei feliz e resolvi trabalhar mais duas horas por dia. Fantástico, fui elogiado... e com o elogio recebi outro corte no salário, desta vez 19%. Mas me elogiaram, fiquei feliz.

Com este corte fui morar no subúrbio, mas o sorriso continuava em meu rosto - (sorri falsamente com os dentes) - . Os cortes continuaram, (fala mais alto) cada vez maiores, (aumenta) aos 60 anos recebia apenas 2% do que recebia no começo, e eu ainda era bem saudável, (ironia) chegaria aos 70 trabalhando. Entrei na empresa no setor administrativo, (respira) depois portaria.

E os 65 anos chegaram, fui informado: (imita voz fina desdém) "seu joão, seu salário foi eliminado, o senhor não terá mais férias e, a partir de amanhã, limpara os sanitários". (rindo) Foi demais, até mesmo pra mim. (ri muito) Disse que estava me aposentado. Todos pasmaram: "Ué logo agora que o senhor é desassalariado??".

A emoção era grande de mais, meu coração já não aguentava. (bravo e alto) Será que aqueles (leento) FILHOS DA PUTA (normal) achavam mesmo que eu gostava daquilo? Será que achavam que gostava de cortes e mais cortes? NÃO! Claro que (ênfase) NÃO. Apenas me adequava, sempre aprendi com meu pai, Victor Giudice, que, mesmo sentindo ojeriza do trabalho, tinha de me dedicar e sempre deveria me calar.

Me chamo João. Hoje sou um arquivo de metal.


*texto original de Victor Giudice (arquivo)

*este feito por mim, depois de pronto algumas modificações por meu amigo Fernando Llido.

Um comentário:

Unknown disse...

é por isso que não quero nunca trabalhar :///
acho muito sofrimento ter que trabalhar, mesmo que seja pra ganhar rios de dinheiro etc e tudo.

:~~